Pesquisa deseja conhecer as mulheres da palhaçaria do interior de Pernambuco

by - abril 24, 2021

 Conduzido pela Cia Brincantes de Circo, o levantamento dá sequência a catálogo disponível online

| Odília Nunes, de Ingazeira, dá vida à Palhaça Bandeira | Foto: Divulgação |

“O palhaço, o que é?”, pergunta uma música que ficou famosa na voz de Carlos Galhardo. A resposta dada pelos compositores tornou-se clássica na cultura popular brasileira: “É ladrão de mulhé”! A Cia Brincantes de Circo, porém, resolveu contestar essa versão da história. Para isso, reuniu experiências da palhaçaria feminina de Pernambuco no catálogo ‘O palhaço o que é? A palhaçA é mulher!’, que pode ser acessado gratuitamente em formato digital. Além disso, como a maior parte das artistas catalogadas são da Região Metropolitana de Recife, o grupo ainda deseja mapear de forma ampla o cenário no restante do estado, através de um formulário online, dirigido a todas as mulheres palhaças do interior.

O formulário representa a continuação de uma pesquisa que tem o objetivo de dar visibilidade à arte de mulheres em uma atividade comumente associada aos homens. No primeiro levantamento feito pela Cia Brincantes de Circo, contudo, apenas três artistas do interior de Pernambuco participaram, e, por isso, essa segunda etapa é tão importante.

“Por muito tempo a comicidade feminina foi invisibilizada. Mesmo antes da disseminação da palhaçaria, já existiam mulheres que atuavam como palhaços - digo ‘palhaços’, porque, até pouco tempo, não existia o feminino ‘palhaça’ - mas suas histórias se perderam no tempo. Entretanto, não podemos mais deixar que essa cultura estruturalmente patriarcal nos apague e por isso precisamos unir forças e fazer ecoar nossas vozes”, defende Jerlâne Silva, palhaça, pesquisadora e idealizadora do projeto.

| A idealizadora do projeto, Jerlâne Silva, como a Palhaça Bilac | Foto: Arquivo Pessoal |

A pesquisadora conta que não há uma data prevista para o encerramento da pesquisa, já que a intenção é conseguir reunir o maior número possível de histórias em uma nova publicação. “Ainda estou muito afetada com a pesquisa e no momento só sei que não consigo parar. Deixei o formulário aberto porque passei a entender a preciosidade de cada jornada e que cada história contada é importante para preencher a lacuna histórica sobre a comicidade feminina. Ainda não sabemos como e quando a pesquisa será socializada. Pode ser com outro catálogo virtual, mas também sonhamos com uma publicação impressa”, explica Jerlâne.

Artistas do riso - O catálogo ‘O palhaço o que é? A palhaçA é mulher!’ traz os relatos de 20 mulheres pernambucanas, de experiências tão distintas quanto os nomes das palhaças que interpretam. Nas páginas da obra, é possível conhecer histórias como as de Bilac, palhaça vivida por Jerlâne em Recife; ou da Palhaça Bandeira, de Ingazeira; ou ainda de Nana Banana Nanica de Prata Comprida da Terra Cozida ou Assada com Queijo por Cima Açúcar e Canela Batida Amassada de Casca Amarela, que promove o riso na cidade de Olinda.

| De nome comprido, Nana Banana é a Palhaça vivida pela olindense Ana Flávia | Foto: Arquivo Pessoal |

Segundo Jerlâne Silva, a ideia da pesquisa que gerou o catálogo a acompanha desde quando começou a atuar nas companhias recifenses Brincantes de Circo e 2 em Cena. Mas o estopim para o início do levantamento só veio no ano passado. “Foi em 2020, durante a oficina ‘Dramaturgia na Palhaçaria’, com Karla Concá, que fui provocada a iniciar a pesquisa, ao perceber que, mesmo com fortes indícios, ao longo da história, da presença de mulheres cômicas, poucos são os registros dessas figuras”, relata a pesquisadora. 

A idealizadora do projeto também acredita que esse trabalho é um legado para novas gerações de artistas. “A todo tempo somos atravessados e afetados pelas informações e conhecimentos que nos chegam, então, é claro que o acesso à jornada de mulheres na comicidade feminina pode inspirar e envolver muitas outras”, afirma. 

A pesquisa de ‘O palhaço o que é? A palhaçA é mulher!’ contou com recursos da Lei Aldir Blanc, através da Secretaria Estadual de Cultura (Secult-PE) e da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe). Outras informações sobre o projeto podem ser encontradas na página do Instagram da Cia Brincantes de Circo.

Texto: João Pedro Ramalho

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