Cultura com acessibilidade, obras da Pipa Produções promovem inclusão
Espetáculo de teatro e livro contam com tradução para Libras e audiodescrição
| Intérprete Rejane Silva traduz cena de espetáculo para Libras | Foto: Karen Lima | |
O Estatuto da Pessoa com Deficiência afirma que o indivíduo “com deficiência tem direito à cultura, ao esporte, ao turismo e ao lazer em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, sendo-lhe garantido o acesso: [...] a programas de televisão, cinema, teatro e outras atividades culturais e desportivas em formato acessível”. Lançados nas últimas semanas, o espetáculo teatral ‘Músicas para Amar Demais’ e o livro ‘Às Margens do Velho Chico Nascem as Histórias’, ambos realizados pela Pipa Produções, contaram com recursos listados no Estatuto: a janela com intérprete da Língua Brasileira de Sinais (Libras) e a audiodescrição. Essa é uma forma de garantir que o maior número de pessoas tenha acesso à produção dos artistas do Sertão do São Francisco.
A tradução para Libras foi feita pela intérprete Rejane Silva. Ela participou tanto do lançamento do livro 'Às Margens do Velho Chico Nascem as Histórias’, de autoria da jornalista Ana Carla Nunes, como do espetáculo ‘Músicas para Amar Demais’, cujas exibições estão disponíveis no Youtube. Para Rejane, a promoção da inclusão nessas obras é fundamental, especialmente durante a pandemia. "A cultura é para todos, principalmente nesse momento que estamos vivendo, e ver essas produções pensarem na acessibilidade para esse público é de uma importância sem tamanho", afirma.
Já a audiodescrição, voltada para a inclusão de pessoas com deficiência visual, esteve presente em uma das sessões da peça de teatro e na versão em audiolivro da obra de Ana Carla Nunes. Os responsáveis pela tradução das imagens em palavras foram Juniro Almeida, audiodescritor roteirista, e Ira Vilaronga, consultora de audiodescrição e encarregada de avaliar o roteiro, sugerindo modificações que tornem a descrição mais compreensível pelo público cego. Almeida acredita que trabalhos como o seu contribuem com um processo de reparação histórica. "Ao longo da história, o cego foi privado de opções de lazer e entretenimento como o teatro ou cinema. Por isso é importante que mais e mais produtos se utilizem do recurso da audiodescrição, para que haja de fato a tão pregada inclusão social", defende o roteirista.
O êxito dessas iniciativas pode ser percebido já entre os profissionais responsáveis. Ao mesmo tempo que é consultora de audiodescrição, Ira Vilaronga, como uma pessoa com deficiência visual, é também usuária desse recurso. Em comentário feito no vídeo do Youtube que contém o audiolivro ‘Às Margens do Velho Chico Nascem as Histórias’, ela compartilhou a emoção sentida ao ouvir as narrativas sobre os protagonistas. "A ilustração nos transporta, juntamente com o texto, ao bucólico cenário das comunidades, à fé e religiosidade local, às belezas do Velho Chico e à bela, e ao mesmo tempo sofrida, vida desses três inspiradores nativos locais. Obrigada pela experiência", agradeceu Ira.
A produtora executiva da Pipa Produções, Nilzete Miranda, explica que a inserção dos recursos de acessibilidade em seus projetos faz parte de uma política de ampliação das produções culturais para um maior público na região. Ela acredita que essas iniciativas criam fortes conexões entre a produtora, suas obras e os espectadores.
Além disso, a promoção da inclusão através da tradução para Libras e da audiodescrição também movimenta os profissionais envolvidos com a cultura. "A acessibilidade é direito e é movimento de mudanças na sociedade. Devemos conceber e promover, criar diferentes caminhos para acessar, para se relacionar e potencializar momentos de trocas e aprendizados. Com isso, faremos com que a demanda pelo serviço aumente e, consequentemente, a formação de profissionais na área também seja aquecida", afirma Nilzete.
| Juniro Almeida e Ira Vilaronga são responsáveis pela audiodescrição | Foto: Arquivo pessoal | |
Desafios - Cada uma das obras realizadas pela Pipa Produções ofereceu um desafio diferente para esses profissionais. Além do próprio nervosismo sentido ao realizar a tradução ao vivo, Rejane Silva conta que precisou aprender sinais novos em Libras, mesmo trabalhando há cinco anos com produções culturais. Um exemplo ocorreu com a palavra "coreografia". "Eu não tinha um sinal específico para ela. Normalmente se usa o sinal de 'dançar', mas eu não queria ficar só nisso. Eu queria ir mais além. Fui pesquisar e pedi ajuda de colegas surdos para saber como poderia contextualizar. Daí ficou a junção dos sinais 'arte' e 'dançar'", explica a intérprete.
Realizar a audiodescrição do espetáculo e do livro também exigiu habilidades diferentes de Juniro Almeida e Ira Vilaronga. Para a peça de teatro, por exemplo, foi preciso descrever cenários, figurinos, características físicas do elenco, além de movimentos, expressões e efeitos de iluminação - tudo isso nos intervalos curtos entre os diálogos. "O tempo é bastante reduzido, o que implica descrever em poucas palavras ações muitas vezes ricas em detalhes. Então, é necessário eleger 'cenas chave' para o entendimento da narrativa, ter capacidade de síntese na escrita e fazer boas escolhas tradutórias", explica o roteirista.
Por outro lado, a produção do audiolivro possibilitou mais liberdade à equipe, já que não havia uma restrição de tempo. "Esse tipo de obra permite descrever com riqueza de detalhes as fotografias, traduzindo com um toque poético cada imagem. Tivemos o cuidado de introduzir sinais sonoros diferentes para indicar o momento de entrada da narrativa textual e da audiodescrição das imagens", relata Almeida. Independente da linguagem original, contudo, o roteirista reitera que o maior objetivo de seu trabalho é "transmitir a poética que cada obra pediu".
Serviço
‘Músicas para Amar Demais’ - https://abre.ai/mpad
‘Às Margens do Velho Chico Nascem as Histórias’ (Audiolivro) - https://abre.ai/cugO
‘Às Margens do Velho Chico Nascem as Histórias’ (Lançamento) - https://abre.ai/cugS
Texto: João Pedro Ramalho/ Virabólica Comunicação
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