Opinião - Sobre Regina Duarte e a "idiotização" da área cultural

by - maio 08, 2020

Jaqueline Vasconcellos faz uma leitura lúcida da entrevista da secretária à CNN


Acabo de assistir, com muito custo, à entrevista de 40'25" da atual Secretária Nacional de Cultura e confesso que o chilique que ela deu por causa do vídeo de cobranças de Maitê Proença (também bolsonarista, não esqueçamos) foi o menor dos nossos problemas naquele interlóquio.

A atual secretária escarneceu da área cultural, dos artistas e da importância da memória do legado de nomes como Aldir Blanc ou Flávio Migliaccio. Para ela, segundo a mesma, só merece sua atenção quem ela conhecia pessoalmente, ao que deu como exemplo sua relação pessoal com o mecenas Ricardo Brennand. Para a mesma, se nós estivermos incomodados com a falta de pronunciamento sobre as mortes de grandes agentes da Cultura, neste momento tão crítico, ela pode "abrir uma seção de obituário" no site da Secult nacional.

Ou ela nos subestima enquanto classe ou idiotiza nossa área, nos fazendo crer que sua cara de mocinha (eterna Helena) seria suficiente para aplacar nossa vergonha diante do vexame destas declarações.

Inobstante essas gafes, ela se diz surpresa com o estardalhaço que fazemos diante das declarações de Bolsonaro sobre o Regime militar, em que o mesmo classifica como heróis, torturadores. A frase "sempre houve tortura. Eu não vou carregar um cemitério nas costas, pois onde há vida, há morte" saiu da boca de outra figura de Estado, mas desta vez, uma ligada à Cultura. A frase foi tão forte que, neste print que fiz da entrevista, os jornalistas baixaram suas cabeças. O âncora (Reinaldo Gottino) da CNN balançou freneticamente a cabeça para mostrar em rede nacional sua reprovação a este texto.

É um acinte ter esta pessoa representando a área cultural do nosso país. Ela é o epíteto que melhor representa o termo obtusidade. Ela não pode representar a ninguém da área, pois não somos ignorantes, ou burros...

Ao falar de Olavo de Carvalho, se disse constrangida com os palavrões presentes em seus novos livros e disso ela não gosta, por isso parou de ler. Representou muito bem o papel de velha pudica, moralista, ocupada em se valer do cargo que está.

A ANCINE, Fundação Palmares e o FNC não são com ela. Nada está à cargo desta pessoa vil e condescendente, que só está lá para idiotizar uma classe e nos apresentar de modo errôneo a uma sociedade brasileira neoprodutivista que faz as subjetividades parecerem inúteis.

Mesmo em tempos de morte e pandemia, é vergonhoso ver o quanto estamos desamparados neste cenário por absoluta falta de representação.

Se você, artista e fazedor de cultura, não está ultrajado, não entendeu o que Regina Duarte fez hoje na CNN. Ela, que deveria nos representar, fez uma entrevista pífia, arrogante e despreparada.

Ela mostrou ao Brasil e, quiçá ao mundo, que as pessoas de Cultura são, como ela por processo dedutivo de comparação, idiotas manipuláveis, despreparados e pouco cultos, além de não terem qualquer educação em política ou gestão pública.

Não é gestora? Não aceite o cargo! O que não é justo é termos um ser ignóbil deste à frente do principal órgão cultural do país.

Muito faz quem não atrapalha, sinhazinha!

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