4 livros escritos por mulheres para ler na quarentena... por Karen Lima

by - maio 10, 2020

Convidamos vários amigos para indicações artísticas que estão disponíveis na rede nesse período de distanciamento social


De sorriso farto, Karen é daquelas mulheres que não há quem fale mal, pois tem carisma de sobra e sempre coloca muito afeto em tudo o que faz. Jornalista formada pela Uneb, escreveu o livro-reportagem 'Fortaleza de Partilhas: relatos de Alcoólicos Anônimos' e  possui contos e crônicas publicadas em revistas como TAG Livros e Vacatussa. Leitora faminta, sempre escuto ela falar de uma ou outra publicação que precisamos conhecer.

Ela nos preparou uma lista de quatro livros escritos por mulheres para serem apreciados nesse período em que precisamos ficar em casa. Tem contos, livro-reportagem, poemas e romance, palavras para todos os gostos.

Acompanhe a lista!

Olhos d’água – Conceição Evaristo (contos)

“Eu sabia, desde aquela época, que a mãe inventava esse e outros jogos para distrair a nossa fome. E a nossa fome se distraía”


O cotidiano da população preta no Brasil contado em 15 contos, que retratam temas importantes através de personagens silenciados na nossa literatura. São trabalhadoras, mendigos, mães, traficantes. Através de frases concisas, de força e sensibilidade, Conceição Evaristo constrói personagens cheios de nuances e humanidade. Em 'Olhos D´Água' é possível se emocionar e refletir com as histórias sobre racismo, ancestralidade, violência urbana, prostituição, pobreza, aborto e homossexualidade. Com grande protagonismo de mulheres, o livro ganha mais força por ser contato por uma mulher preta, nascida em uma favela da Zona Sul de belo Horizonte, que mesmo com muitas dificuldades, se tornou mestre em Literatura Brasileira, Doutora em Literatura Comparada e atualmente é considerada uma das grandes escritoras do nosso tempo.


A vida que ninguém vê – Eliane Brum (livro-reportagem)

“Uma frase só existe quando é a extensão em letras da alma de quem a diz”



Pessoas não são números e toda vida importa. É o que mostra a jornalista gaúcha Eliane Brum ao relatar com sensibilidade o cotidiano das ruas, lugares e a vida anônima das pessoas comuns. São 21 capítulos de crônicas-reportagens que revelam a jornada de herói contida nas vivências que não viram notícia, mas despertam o olhar para o verdadeiro milagre da vida: aqueles feitos por gente. São personagens que poderiam ter saído de uma ficção e o que mais surpreende é a própria grandeza da realidade: famílias desalojadas, pessoas com deficiência física, carregador de malas que nunca viajou de avião, mães pobres a parir filhos mortos. Contadas por meio de técnicas do jornalismo literário, sem perder a criticidade, essas histórias foram publicadas, inicialmente, no Jornal Zero Hora e reunidas neste livro-reportagem vencedor do Prêmio Jabuti de 2007.


Um útero é do tamanho de um punho – Angélica Freitas (poemas)

“eu durmo comigo às vezes de óculos/ e mesmo no escuro sei que estou dormindo comigo/ e quem quiser dormir comigo vai ter que dormir do lado”


Não fala do movimento feminista e nem precisa. Dividido em sete partes que abordam estereótipos  do que se espera de uma mulher: o que pensa, o que deseja, como se comporta, o que veste, o que é ser mulher e já adianto: a mulher é uma construção. Com linguagem sagaz e sem perder o senso de humor, os poemas discutem de maneira transgressora questões de gênero utilizando de falas corriqueiras e de recentes teorias de gênero. Livro vencedor do prêmio de poesia da Associação Paulista de Críticos de Arte e finalista do Prêmio Portugal Telecom, em 'Um útero e do tamanho de um punho' não há uma mulher, mas várias: mulher gorda, mulher linda, mulher limpa, mulher trans, mulher de vermelho, mulher sóbria, mulher de respeito. É um livro que pode ser lido inteiro durante o café da tarde, mas que suas reflexões reverberam e transcendem a discussão sobre a nossa sociedade falocêntrica e binária.


Eu sei por que o pássaro canta na gaiola – Maya Angelou (romance)

“Se crescer é doloroso para uma garota negra sulista, ter noção de seu deslocamento é o enferrujado da lâmina que ameaça a garganta. É um insulto desnecessário”


Racismo. Sexismo. Segregação. Igreja. Estupro. Literatura. São temas que marcaram as memórias da infância e juventude de Maya Angelou, que escreveu nessa autobiografia sobre acontecimentos importantes para entender a recente história norte-americana. Com escrita objetiva, poética e leve, narrou situações engraçadas, ingênuas e traumatizantes de sua vida. A menina Marguerite cresceu reparando as humilhações vividas pela sua vó, seu tio e pelos moradores da cidade de Stamps, no sul dos Estados Unidos, com alta segregação racial. Em encontros e desencontros com os pais e ao redor de parâmetros de beleza branca, de discriminação e violência sexual, encontrou na literatura a chave para a sua libertação. Essa menina se transforma na Maya Angelou que conhecíamos: cantora, poeta, jornalista, dançarina, atriz, roteirista, diretora e uma grande ativista dos direitos civis, lutando ao lado de Malcolm X e Martin Luther King Jr. Ao ler esse livro, passamos a entender mais sobre pássaros presos em gaiolas, que ainda assim cantam, e cantam até se libertar.

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