Entrevista - Antônio Pablo lança EP com trilhas sonoras

by - maio 14, 2020

O projeto disponibiliza online músicas criadas pelo artista para vários espetáculos

Antônio Pablo | Foto: Adriano alves

Qual o som da cena? O multi-artista Antônio Pablo, além de atuar em espetáculos de teatro e Dança, tem se dedicado a criação de trilhas sonoras. Antes mesmo de se dedicar às artes cênicas, ele já tinha a música como um lugar de expressão, a junção das linguagens acabou sendo natural. Agora, dentro de casa, ele continua atuante, buscando alternativas para levar sua arte para as pessoas.

Em tempos de quarentena, ele lança o EP 'Coisas Sonoras', reunindo seis faixas compostas para espetáculos. Entre elas, algumas parcerias com Gean Ramos e Fernanda Luz. O EP tem pouco mais de 20 minutos e pode ser acessado gratuitamente online, no canal do Youtube da Cia. Sarau das Seis ou no Spotify.

Confira um bate-papo que fizemos com o arista:

O EP traz obras criadas como trilhas para espetáculos. De onde surgiu a proposta de lançar esse material deslocado dos trabalhos cênicos?

Estamos a todo tempo buscando estratégias para apresentar o nosso trabalho e conseguir chegar a mais pessoas, com isso comecei a perceber que precisava procurar novos espaços, esvaziar e expandir o alcance das músicas que produzia para as Artes Cênicas, ultrapassar as barreiras das salas de espetáculos. Devido ao desmonte e a não política cultural do país, os espetáculos, dia após dia, têm menos possibilidade de vida, um cenário triste e de grande inquietação. Enquanto artista nos equilibramos nessa corda bamba, sendo necessárias várias frentes de luta e atuação. A partir dessas perspectivas, criei a coletânea “Coisas Sonoras” para um ambiente virtual, admito que “deslocar” as trilhas sonoras não foi uma tarefa fácil.

Como é o processo criativo de trilha sonora? É uma construção diferente das músicas mais comuns?

É preciso ressaltar que existem varias lógicas de construção de trilhas sonoras e suas utilizações na cena também são inúmeras, cabe ver qual dessas possibilidades melhor atende ao seu projeto, e qual orçamento você dispõe, já que na maioria das vezes essas questões passam despercebidas, e são determinantes e de suma importância no processo de produção. Fica a dica (rs).

Aqui, falarei das minhas escolhas de criação e qual universo sonoro venho me debruçando para compor as músicas. O tipo ideal é ter um trabalho de total simbiose com os criadores das cenas. Nesse processo de dialética, comecei a perceber que uma construção com visões musicais mais abstratas, menos ligadas a elementos de performances baseadas em regras rígidas de ritmo, melodia e harmonia, me traria um espaço cênico/sonoro mais rico. Minha busca enquanto criador é que a música esteja para cena ao mesmo tempo em que a cena esteja para a música, fazendo com que atores/atrizes e ou bailarinos/bailarinas tenham espaços para criação, mas também se encham de estímulos e elementos que os motivem em seu processo criativo a partir de timbres, texturas e paisagens sonoras. Assim, juntos criam novos sentidos que só se completarão de fato com o encontro e olhar do público.

Sobre a questão se “é uma construção diferente das músicas mais comuns”? Não vejo assim, música é música em qualquer parte do mundo, mesmo com seu universo infinito... Há sempre princípios que se conectam ou retornam. Isso pode acontecer de várias formas, cabe a nós nos questionarmos, como podemos perceber essas particularidades? Depende realmente da sociedade ou condição cultural em que vivemos? Ao acessar mais uma lógica que outras, e sofrer o processo de construção diariamente por produtores do mercado fonográfico e da indústria cinematográfica americana ou europeia, é possível dizer que temos controle sobre nossas percepções?

Como escapar da seqüência de semitom e sua sensação de tensão da trilha composta por Jhon Williams para o filme Tubarão do Steven Spielberg?

Podemos até teorizar ou falar a respeito de como nos livrar das idiossincrasias sócias, mas na verdade elas são impregnadas em nosso imaginário, sem nem mesmo percebermos ou saber a origem.

Como você tem encarado essa quarentena? Esta criando algo ou organizando suas propostas artísticas? Ou ainda se permitindo ao ócio (já que os artistas vivem na correria)?

É difícil responder a essa questão da quarentena porquê estamos lidando com algo que não sabemos quando de fato vai passar. Para os artistas brasileiros que já vinham sofrendo com os desmontes do setor cultural, fomos pegos todxs de surpresa. Com isso, não temos como não pensar como vamos nos manter e pôr o pão na mesa. É preciso se articular para resistir à toda essa política devastadora e genocida propagada pelo presidente Jair Bolsonaro, de uma forma covarde, apoiada pelos demais poderes, legislativo e judiciário.

Mas, sem dúvida, o primordial é salvar vidas e colaborar para que as informações corretas cheguem ao nosso povo, e distribuir o melhor que temos. A arte é essencial para a vida, mas nunca foi tão necessário e emergencial o trabalho artístico no mundo todo. Aqui está nosso desafio, como chegar nas pessoas e como nos conectamos com essas novas formas de se apresentar ao nosso público, um processo que já vinha crescendo e agora com o isolamento social está escancarado, está dado.

Eu me debrucei totalmente na produção do 'Coisas Sonoras' e seu lançamento, mas posso anunciar em primeira mão que o EP está ligado a três movimentos. Então, teremos em breve mais duas produções artísticas, já que, nesse momento, ócio só se for criativo. É preciso, mesmo no isolamento em casa, dar movimento ao corpo e as criações para não enlouquecer. Com isso, se quiser saber de mim e sobre mim, pergunte aos meus instrumentos e as minhas criações. Saudações sonoras à todxs e que atrevêssemos tudo isso com força e amor!

Escute o EP:


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