Entrevista - Cristiane Crispim fala sobre seu livro, que discute sobre o uso de máscaras em processos criativos

by - agosto 04, 2020

A atriz e artista visual fala sobre a publicação e adianta que o processo da peça foi retomado


| A atriz com uma de suas criações | Foto: Robério Brasileiro |

"Mitos, Ritos e Tipos no Processo de Criação em Máscara" esse é o título do livro lançado pela atriz Cristiane Crispim, resultado de sua pesquisa final no curso de Artes Visuais pela Univasf. No livro, ela discute a máscara como processo criativo, traçando um levantamento histórico e também teórico-prático.

Essa pesquisa une sua formação teatral às acadêmicas em Literatura e Artes Visuais, já que surge a partir de um processo de criação de espetáculo da Cia. Biruta, da qual a artista é co-fundadora. A companhia estava adaptando a obra "A Hora da Estrela" de Clarice Lispector para os palcos e realizando estudos para produção de máscaras nesse projeto, que "ainda" nem chegou a estrear, mas rendeu a pesquisa que Cristiane levou adiante individualmente.

O livro foi publicado pela Editora CRV e pode ser adiquidido através do perfil @ciabiruta, no Instagram, por R$ 30.

Saiba mais sobre a pesquisa e publicação em uma breve entrevista com a artista

| Cristiane Crispim pesquisou máscaras em seu processo de atriz | Foto: Leonardo Carvalho |

Primeiro, como começa o seu interesse pelas máscaras? Foi algo da atriz?

Sim, é pelo teatro. Primeiramente como uma linguagem que exige do corpo de atriz uma consciência e um autopercepção ampla. A máscara tem um caráter pedagógico nesse sentido e contribui muito para formação de uma consciência corporal que dilata o corpo em cena. Mas, a pesquisa visual da máscara surge da necessidade de fazer convergir o meu trabalho no Teatro com a formação em Artes Visuais. Estava iniciando processo de montagem do espetáculo baseado no romance A Hora da Estrela no grupo, ao mesmo tempo que tinha que definir um trabalho de conclusão de curso de Licenciatura em Artes Visuais na Univasf, e a máscara foi um elemento de confluência, onde eu poderia agregar uma pesquisa teórica e prática nas artes visuais, com minha pesquisas e minhas práticas no fazer teatral. 

Achei super interessante saber que a pesquisa da máscara surgiu em um processo (ainda) não concluído de Teatro. Como foi esse processo inicial e depois seu desligamento para o estudo mais acadêmico? E a peça, ainda é um plano?

Iniciamos o processo com a ideia de levar a adaptação da Hora da Estrela para o palco e definimos a máscara como elemento fundamental da encenação, e por conta da inserção no curso se artes visuais e da minha predileção por modelagem, fui incumbida de confeccionar as máscaras para o processo e, como eu disse, resolvi fazer disso o meu processo de pesquisa na academia. A montagem não seguiu por desfalque no elenco, mas a pesquisa com a máscara tinha uma certa autonomia e segui com ela para conclusão do meu curso, ao fim realizei uma exposição das máscaras e do memorial do processo. A montagem sempre ficou como um projeto possível de ser retomado, mas com o lançamento do livro o desejo de concretizá-la e ver o potencial das máscaras em cena se tornou mais forte e decidimos retomar o processo criativo pra montagem. Resultado, já reconfiguramos o elenco, serei eu e um outro ator convidado em cena, inclusive, já iniciamos os encontros online, tudo muito devagar e sabendo que no meio da pandemia não temos previsão de uma  voltar a uma rotina presencial e  mais intensa, nem de quando poderemos estrear, mas estamos caminhando.

Esse livro é a concretização de um aprofundamento em várias linguagens, apresentado na conclusão do curso de Artes Visuais, mas com base na Literatura e um ponta pé do Teatro. Como foi poder trabalhar a integração dessas atuações?

A partir da máscara  investiguei processos de deslocamentos intersemióticos entre essas linguagens,  pois elas não só dialogam entre si no sentido de em todas elas a máscara ser um recurso estético potente, mas contribuem uma para o processo criativo da outra agregando a cada "tradução", novos procedimentos e efeitos, muito próprios de cada uma. É um processo muito rico que aprofunda e amplia o conhecimento sobre a máscaras num entrelaçamento entre seus aspectos históricos, antropológicos, culturais e artísticos, o que contribui para compreender melhor e poder fazer uso dos seus efeitos tanto plástico e como cênicos. Essa integração também se relaciona, sobretudo, com minha trajetória de formação dentro e fora da academia, fiz uma primeira graduação em Letras, escolhi fazer Teatro e busquei formação em artes, tendo como opção na região as Artes Visuais. Cada caminho que se escolhe lhe trás coisas ímpares, mas gosto muito dessa pluralidade e da riqueza dessas convergências.

Vejo como importante o ato da publicação do livro para que a pesquisa saia da academia. Como foi produzir e lançar o livro?

Foi bem significativo, sobretudo porque tem possibilitado novos diálogos com o fazer teatral. A partir dele já estabelecemos pontes com diversos grupos e artistas do país que se mostraram interessados na troca, sabe. Considero importante a publicação também por trazer como tema um processo criativo de um grupo local. Muitas vezes quando pensamos em uma montagem de teatro, se pensa esse trabalho ligado a relação com os ensaios e a produção para que tudo fique pronto no palco, e às vezes não dimensiona imediatamente quantos conhecimentos e saberes diversos ali são articulados, e não só, são também produzidos e que dizem respeito a muito mais coisas que a gente consegue ver em cena. É a poética de uma artista e de seu grupo que está ali e que é muito particular de uma vivência e que justamente por isso, contribui para formar uma multiplicidade de saberes. E, assim, a gente também registra  uma memória desses processos na nossa região. 

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