Nossa memória em paredes e colunas, as construções históricas da região como Patrimônio Cultural

by - agosto 17, 2020

Sempre ameaçados pelo setor imobiliário, os prédios quando não tombados correm risco de destruição


| Área da Petrolina antiga | Foto:Victor Peixoto / Jornadas Fotográficas do VSF |


Somos uma região que cuida da nossa memória Cultural? Trazemos esse questionamento para a Semana do Patrimônio Cultural, celebrando o dia 17 de agosto como Dia Nacional do Patrimônio Histórico. Precisamos discutir o que está acontecendo no Sertão do São Francisco, onde há poucas políticas públicas para a Cultura e uma situação generalizada de descuido dos gestores públicos com os patrimônios culturais. Juntas, Petrolina-PE e Juazeiro-BA só tem três bens culturais tombados, são construções históricas que guardam nas suas estruturas muito sobre o povo ribeirinho e o desenvolvimento local ao longo dos anos.


Igreja Matriz de Petrolina | Foto: Cícero Benício da Silva / Jornadas Fotográficas do Vale do São Francisco

No lado Pernambucano, a Igreja Matriz de Nossa Senhora Rainha dos Anjos, construída entre 1858 e 1860, deu início a área urbana do município e suas paredes em tons amarelo viram a cidade crescer ao seu redor. A construção em estilo neocolonial, tombada pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco - Fundarpe, abriga a imagem da padroeira da cidade e está localizada na área central que se conhece como "Petrolina antiga", ruas cheias de história, mas pouco preservadas.


Antiga Estação Ferroviária de Petrolina | Foto: Maurício André / Jornadas Fotográficas VSF

Há menos de 900 metros dali, a antiga Estação Ferroviária de Petrolina foi construída quando a cidade era conhecida como "passagem para Juazeiro", com inauguração datada em 1923 e atualmente tombada pela Fundarpe. O local era ponto de parada dos trens que faziam o transporte de pessoas e cargas na época, sendo um marco para a economia e o desenvolvimento da região. Infelizmente, um prédio tão importante atualmente tem fins meramente comerciais de uma empresa funerária, deixando de lado a possibilidade de ser um espaço ideal para uso cultural.


Aqueduto na Uneb | Foto: Jennifer Lee Palmer / Jornadas Fotográficas VFS

Do outro lado da ponte, o Aqueduto do Antigo Horto Florestal, localizado no campus da Uneb Juazeiro, é símbolo do desenvolvimento da irrigação no Vale do São Francisco. Não se sabe ao certo a data exata de sua construção, realizada ainda sem cimento, mas há relatos de ser centenária. Hoje único em solo juazeirense tombado Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia - IPAC, o aqueduto apresenta problemas em sua estrutura que precisam de atenção para garantir sua conservação.


Cuidar desses bens culturais é um ponto chave para preservar a memória regional, como aponta o historiador Moisés Almeida, doutorando em História pela UFPE e professor da UPE em Petrolina. "Um prédio histórico carrega consigo uma longa história. Seus traços, modelo, material utilizado, representam um tempo e uma mentalidade. Por isso, todos os prédios de um lugar, dizem muito sobre aquele lugar, dizem muito sobre sua história. Nesse sentido, se queremos preservar a história e mantê-na na memória, temos que ter políticas responsáveis de preservação", explica o professor.


Palácio Diocesano de Petrolina | Foto: Victor Peixoto / Jornadas Fotográficas VSF

Seria importante para a região que mais bens culturais sejam tombados, para garantir a conservação e não cair nas armadilhas da especulação imobiliária tão forte nos últimos anos. Como o Palácio Diocesano de Petrolina que recentemente esteve em discussão, primeiro na possibilidade de ser destruído com boatos da construção de um shopping, depois com seu processo de tombamento.


O professor Moisés também acredita que o avanço imobiliário pode colocar em risco as construções históricas. "Infelizmente tudo vira mercadoria, inclusive os monumentos e espaços históricos, mesmo que revitalizados. No caso específico do palácio do bispo, um grupo de mobilizou de denunciou o que estava ocorrendo. Felizmente a denúncia serviu para barrar o "negócio" que estava por vir. A especulação imobiliária sim é risco e tem sido ao longo da história recente. Já vimos casos em Juazeiro - BA de casas serem destruídas, quando se ouviu falar em tombamento. Quem destruiu?", deixa a questão.


Fontes:

Projeto IPatrimônio

Fundarpe

Ipac-BA


Fotos:

Jornadas Fotográficas do Vale do São Francisco

20ª Jornada Fotográfica - Ago/2012 - Patrimônio histórico de Petrolina

73ª Jornada - Out/2017 - UNEB Campus Juazeiro

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