Relato de experiência: Intercâmbio de teatro de grupo dos interiores do Brasil

by - agosto 21, 2025

 Memórias do encontro da Trup Errante com a Teatro Circense Andança em Petrópolis (RJ)

| Trup Errante encontrou com o Teatro Circense Andanças em Petrópolis (RJ) | Foto: arquivo pessoal |


A beleza do céu não está em uma única estrela, mas em suas constelações. O que parece desordenado revela, na verdade, sua própria organização. Talvez o teatro de grupo funcione da mesma forma.

A Trup Errante, com quase 20 anos de trajetória entre Petrolina (PE) e Juazeiro (BA), tem no encontro o centro da sua prática. Encontro entre artistas, com o público, com o território. A cena não se limita ao palco: transborda, alcança o outro, cria presença. Por isso, o desejo de intercambiar com outros coletivos – especialmente com o Teatro Circense Andança, de Petrópolis-RJ, grupo com mais de 30 anos de estrada e referência afetiva, ética e estética para a Trup.

Ao longo de 15 dias, os grupos compartilharam oficinas, visitas, mesas de conversa e apresentações. Um campo fértil de trocas. Além das afinidades poéticas —como o foco na arte do ator e da atriz, o trabalho colaborativo e o uso de espaços não convencionais— há também um vínculo pessoal: Thom Galiano, da Trup, é parente de integrantes do Andança, com quem estagiou em 2001. Esse reencontro aprofunda antigas conexões e projeta outras.

Foram realizadas oficinas com foco na fisicalidade do ator, ministradas por Madson José, Luísa Alves, Raphaela de Paula e Rafa Moraes. Foram trabalhados princípios como enraizamento, desequilíbrio, segmentação corporal, respiração, improvisação, poesia do gesto e linguagem do palhaço, além de compartilhamento de canções. 

“A escuta e o corpo-coletivo em estado de jogo foram o centro da experiência. O reconhecimento da base, lugar-pé... não tem voo sem enraizar”, diz Zuleika Bezerra em um dos seus relatos. 

| Trup Errante encontrou com o Teatro Circense Andanças em Petrópolis (RJ) | Foto: arquivo pessoal |


Foi criado um diário de bordo coletivo, onde foram registrados depoimentos e desenhos. Esses relatos oferecem um olhar interno. Renata Alves descreveu sua experiência em meio à natureza, no encontro guiado pela Trup na Fazenda Vira Mundo:

“Assim, sem amarras, a voz que é corpo, embalada em canções diversas, envolveu o espaço e nos transportou para outros tempos. Tempos de outrora onde tudo nasce e renasce, na beleza do que somos, sendo, e mais e mais: pássaro, sol, fogueira”.

Gabriel Alves comentou que havia músicas que davam um “quentinho no coração” e que “um dos momentos mais difíceis da oficina foi tirar o nariz de palhaço”. Já Rosi Assis escreveu: “Por fim, a dança dos dedos. Encontrei o Lírio, conduzi e fui conduzida. O momento especial foi abrir os olhos e encontrar nosso companheiro ali sorrindo, e selar esse momento com um abraço forte”.

Também foi realizado um Laboratório de Criação com mediação de Thom, onde os participantes puderam apresentar propostas cênicas e pensar caminhos futuros. Houve ainda uma mesa de conversa entre os dois grupos, voltada à escuta de experiências, afetos e metodologias.

| Apresentação de "Palavras Andantes" | Foto: arquivo pessoal |


Para o público em geral, foi apresentado o espetáculo “Palavras Andantes”, uma obra que entrelaça com a literatura do Sertão do São Francisco. A apresentação foi no Centro de Cultura Raul de Leoni, no dia 23 de junho, às 19h30, seguida de bate-papo com estudantes dos cursos de Palhaçaria e do Técnico de Teatro do ITA.

No dia 24, o grupo visitou o Projeto Social Casa Perfeita Alegria, na comunidade Osvaldo Cruz. O encontro se transformou em um espaço de troca genuína com as crianças, que assistiram ao espetáculo “Estelita – Entre Fadas e Outros Bichos”.

As vivências, segundo Madson, “revitalizam a vontade de estar junto novamente, sonhando formas de serestar no mundo”. 

| Trup Errante encontrou com o Teatro Circense Andanças em Petrópolis (RJ) | Foto: arquivo pessoal |

Agradecemos ao Andança pela acolhida generosa; aos alunos dos cursos de Palhaçaria e Técnico do ITA; a Luís Osete pela guiança; à Prefeitura de Petrópolis; ao Sesc Quitandinha; à UNIFASE; à Fazenda Vira-Mundo e ao Governo de Pernambuco, por meio do Programa Nacional Aldir Blanc (PNAB).

Vida longa aos grupos de teatro — e que nossas andanças se cruzem, errantes, outras vezes pelos caminhos da arte. Como o céu: impossível de nomear por completo. Mas ainda assim, seguimos olhando. 

por Trup Errante — 10 de julho de 2025.

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