101 anos de Batatinha: o samba do morro de Salvador eternizado na música brasileira

by - agosto 31, 2025

 Mestre do ritmo, o poeta do samba transformou sua vida em música

| Batatinha em estúdio | Foto: arquivo da família |

por Iasmin Monteiro

“É proibido sonhar, então me deixe o direito de sambar.”

Se não podia sonhar, ao menos pôde sambar. E foi assim que o compositor Batatinha transformou o samba em destino. Oscar da Penha (1924-1997) foi um dos grandes sambistas da Bahia. Cantor, compositor e mestre no ritmo marcado em uma simples caixinha de fósforo, levou às rodas de samba pelo Brasil a celebração da cultura negra, a melancolia e a poesia.

Nascido no Pelourinho, coração histórico de Salvador, Batatinha teve uma infância difícil. Órfão de pai e mãe, começou a trabalhar cedo como marceneiro, entregador de marmita, office boy e gráfico de jornal. Aos 16 anos, casou-se com a mulher que o acompanharia por toda a vida. Do matrimônio, nasceram nove filhos.

| Foto: reprodução |

Por que Batatinha?


O apelido artístico surgiu em um programa de calouros na Rádio Sociedade da Bahia. Ao se inscrever no Campeonato do Samba, queria se apresentar como “Vassourinha”, em homenagem ao sambista paulista que o inspirava. Mas, o locutor o anunciou como “Oscar da Penha, o Batatinha”, uma expressão usada na época para dizer que alguém era “boa gente”. A confusão acabou virando identidade.

| Foto: reprodução |

Trajetória na música:


Batatinha cantava desde os 15 anos. Nos anos 1940, auge da era do rádio, compôs seus primeiros sambas: “Inventor do Trabalho”, “Jajá da Gamboa” e “Diplomacia”. Sua obra ganhou espaço no cinema e também foi eternizada nas vozes de grandes nomes da música brasileira, como Maria Bethânia, Caetano Veloso e Chico Buarque.

A canção Diplomacia foi escolhida por Glauber Rocha para integrar o seu primeiro longa-metragem, “Barravento” (1962). Foi um ponta-pé importante que ajudou a consolidar a carreira do sambista. Anos depois, Maria Bethânia faria Batatinha ser conhecido nacionalmente, regravando a música escolhida para o filme.

| Foto: reprodução |

Sua obra eternizada:


Seu primeiro disco, “Batatinha e Companhia Ilimitada", só chegou em 1969, quando ele tinha 45 anos. A gravação só foi possível graças ao incentivo de Paulinho da Viola, que exaltava a excelência do grupo de sambistas baianos do qual Batatinha fazia parte. 

Depois, vieram mais quatro: “Samba da Bahia” (1975), “Toalha da Saudade” (1976), “Batatinha, 50 Anos de Samba” (1993) e “Diplomacia” (1997). Este último, lançado após sua morte, foi organizado por Paquito e J. Velloso. O artista chegou a gravar sua voz no álbum, ao lado de outros grandes nomes da MPB, mas faleceu antes de ver o trabalho finalizado.

Com o cinema sempre por perto, sua trajetória foi retratada no documentário “Batatinha e o Samba Oculto da Bahia" (2007), de Pedro Habib, e no filme “Batatinha, o Poeta do Samba", de Marcelo Rabelo, ambos disponíveis no YouTube.

Quase trinta anos depois de sua partida, Batatinha permanece como uma das grandes referências do samba. Em sua voz, ecoava a história do povo afro-brasileiro, a resistência contra o apagamento da ancestralidade e a força da cultura popular. Batatinha era, ele próprio, o samba.

| Foto: reprodução |


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