Edital cancelado da PNAB Juazeiro gera revolta em artistas selecionados
Em nota, Secretaria de Cultura de Juazeiro estuda reabrir editais cancelados da PNAB
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| | Foto: Prefeitura Municipal de Juazeiro | |
A Prefeitura de Juazeiro (BA) cancelou o Edital Cultura Viva, que destinaria recursos para o fomento à cultura local por meio da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB). O edital fazia parte de uma série de iniciativas que somam R$ 480 mil em investimentos.
Foram dois editais de incentivo financeiro lançados pela Secretaria de Cultura, Turismo e Esportes (Seculte) de Juazeiro. O edital “Fomento” (007/2025) contemplaria propostas voltadas a três metas: formação e educação; registro e divulgação de ações culturais; e promoção de mostras culturais e artísticas. Já o edital “Premiação” (008/2025) premiaria dez coletivos com R$ 12 mil cada.
Segundo nota enviada pelo coletivo Abordagem Teatral, por meio do artista Elder Ferrari, a prefeitura não cumpriu o que está previsto em lei. “Houve todo o processo do edital, os projetos foram avaliados pelos pareceristas, assinamos o termo de execução do projeto, e, em 15 dias, o valor deveria ser pago aos artistas. No dia do pagamento, a secretaria cancelou. Não há nenhum documento com esse cancelamento no Diário Oficial. Foi um cancelamento ‘de boca’”.
Ferrari também afirma que o secretário interino, Brejnev Santana, não explicou o motivo do cancelamento, alegando apenas um erro interno. Os artistas contemplados pelo edital buscam soluções para o problema e cobram respostas da prefeitura, realizando reuniões com o Conselho Deliberativo - composto por representantes da sociedade civil e do governo municipal.
Em nota enviada ao Portal Preto no Branco, a secretaria de cultura informou que está sendo analisada a possibilidade de reabertura dos editais da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), agora com a ampliação do número de vagas disponíveis para a Cultura Viva do município. “As informações quanto ao novo calendário serão divulgadas no site oficial da prefeitura e nos demais canais de comunicação da administração municipal”.
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| | Elder Ferrari | Foto: arquivo pessoal | |
Veja a íntegra da nota enviada pelo Coletivo Abordagem Teatral sobre o cancelamento:
Nós, do Coletivo Abordagem Teatral, viemos a público expressar, com profunda indignação e extrema preocupação, o nosso repúdio ao cancelamento do Edital Cultura Viva, anunciado pela Secretaria de Cultura de Juazeiro.
Somos um grupo com mais de duas décadas de atuação contínua na cena teatral juazeirense. Ao longo desses mais de 20 anos, construímos um repertório artístico que contempla diversas montagens, apresentações em espaços culturais da cidade e participações em festivais dentro e fora do estado, sempre levando com orgulho o nome de Juazeiro.
Inscrevemo-nos no referido edital de maneira legítima, seguindo rigorosamente todos os critérios estabelecidos. Investimos tempo, energia, conhecimento técnico e recursos próprios para cumprir as exigências. Nos organizamos com seriedade, fizemos planejamento, articulamos nossa agenda, mobilizamos artistas, produtores e parceiros, confiantes de que estávamos lidando com um processo público comprometido com a legalidade e o respeito à cultura local.
Fomos surpreendidos, com imenso pesar, pelo anúncio do cancelamento do edital. Um cancelamento arbitrário, repentino, que ignora completamente o esforço das dezenas de grupos e agentes culturais que depositaram fé nesse processo. No nosso caso específico, estamos atualmente em fase de produção de três espetáculos, todos com estreia prevista para o mês de agosto. A ausência dos recursos previstos compromete a aquisição de figurinos, cenários e a manutenção das nossas atividades básicas, gerando prejuízos irreparáveis ao trabalho artístico e à dignidade dos profissionais envolvidos.
É inadmissível que um edital público, com resultado já publicado e premiados anunciados, seja tratado como algo descartável. Edital é coisa séria. Edital é compromisso. Edital é responsabilidade com a cultura e com os fazedores de cultura, que não estão brincando de ser artistas nem simulando um fazer cultural. Estamos trabalhando. Estamos vivendo disso. Estamos resistindo com arte.
Apelamos, com toda veemência, à sensibilidade do prefeito Andrei Gonçalves. Que ele olhe para a gravidade dessa situação. Que compreenda o tamanho do desastre que se abate sobre a cultura juazeirense. Que perceba que não se pode destruir sonhos, projetos e vidas culturais por falhas administrativas cometidas pela própria gestão. Se houve erro, que seja corrigido no âmbito da secretaria responsável, sem punir o lado mais frágil da cadeia — os artistas, os coletivos, os pontos de cultura que há décadas lutam para manter viva a chama da cultura popular, da arte, da memória e da criação.
A cultura de Juazeiro tem pressa. Tem urgência. E exige a seriedade que os processos públicos devem ter. Não se pode brincar com o trabalho alheio. Não se pode abandonar os que, mesmo em meio a tantas adversidades, continuam acreditando na potência transformadora da arte.
Juazeiro não merece esse retrocesso. O teatro não vai silenciar.
Elder Ferrari
Coordenador do Coletivo Abordagem Teatral


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