‘Não pode ser só um lugar para enfeitar a cidade’: Centro de Cultura João Gilberto bate recorde com 100 mil espectadores em 2025

by - dezembro 20, 2025

Com inclusão de novas linguagens e artistas, espaço registra público recorde e lidera fluxo entre os aparelhos culturais da Bahia

| Foto: Secult BA |

por Iasmin Monteiro 

Com 39 anos de história, o Centro de Cultura João Gilberto, em Juazeiro (BA), vive um dos momentos mais emblemáticos de sua trajetória. O equipamento cultural alcançou uma marca inédita de público, ultrapassando 100 mil espectadores em 2025, e consolidou-se como o aparelho cultural com maior fluxo de pessoas da Bahia.

O salto nos números não aconteceu por acaso. A comparação com levantamentos do fluxo de público de anos anteriores evidencia a mudança: o público praticamente triplicou, impulsionado por uma política de democratização do acesso e de inclusão de linguagens artísticas que, antes, estavam à margem do espaço.

À frente da gestão do equipamento cultural está Flávio Henrique Fonseca Martins, que assumiu em 2024. “Eu também sou artista e já recebi muitos ‘nãos’ ali dentro. Decidi que isso não aconteceria mais com ninguém, independentemente da arte que desenvolve”, afirma Flávio. A partir dessa vivência pessoal, a gestão passou a defender o centro como um lugar onde todos podem produzir, criar e sonhar. “Seja rico, pobre, de qualquer linguagem, ali é um espaço do povo”.
 
| Foto: Secult BA |

Política de acesso e pertencimento


Um dos primeiros passos foi o mapeamento dos artistas que já utilizavam o espaço e, em seguida, daqueles que não frequentavam o centro por uma série de dificuldades, entre elas, barreiras estruturais. O resultado foi uma política ativa de inclusão social e cultural, responsável por um crescimento superior a 600% no número de fazedores de cultura que hoje ocupam o João Gilberto.

Ao todo, foram realizadas 220 intervenções de melhoria voltadas diretamente para o conforto e as necessidades dos artistas. Entre elas estão ajustes na infraestrutura do palco, pintura, instalação de internet, disponibilização de bebedouros e copos, além da reconfiguração dos espaços para permitir, inclusive, a hospedagem temporária de artistas em residência. A abertura de uma passagem ligando o centro aos bares da Orla 2 também ampliou a circulação e a integração com a cidade.

“Provocar um senso de pertencimento é fundamental. O artista precisa ocupar, sentir que aquele espaço é dele — e isso se reflete no público”, resume o gestor.

Se antes havia uma predominância do teatro, hoje o centro abriga uma diversidade de linguagens: hip hop, forró, artes visuais, exposições, audiovisual, salas multiuso e atividades simultâneas. Em 2025, o espaço acolheu por quase dois meses a equipe do filme “O Tempo e a Faca”, produção de alcance nacional, reforçando o potencial do João Gilberto também como polo para o cinema e o audiovisual.

A mudança de perfil também rompeu com um histórico de elitização. “Por muito tempo, poucas pessoas tinham acesso ao centro, e isso afastava artistas e público. Abrir para todos exige disposição para cuidar e manter, mas queremos ver o espaço funcionando, vivo, numeroso”, destaca Flávio. Hoje, a agenda segue completamente ocupada até fevereiro, com uma programação que vai de espetáculos e shows a feiras, stand-up e até aulões preparatórios para o vestibular.

Mais do que um prédio cultural, o João Gilberto passou a se afirmar como ferramenta de justiça social. “Não pode ser só um lugar para enfeitar a cidade. Ele tem que ser útil”, defende o gestor, que também aposta no fortalecimento da identidade do espaço, evidenciando a trajetória do artista que lhe dá nome.

| Foto: Secult BA |

Sertão vivo e cultura regional valorizada


Outro eixo central da gestão é a conexão regional. O centro de cultura ampliou o diálogo com as nove cidades que integram o Sertão do São Francisco, trazendo artistas desses territórios para Juazeiro e promovendo uma unificação cultural que fortalece a identidade regional e aproxima os municípios.

Para o próximo ano, a proposta é manter a mesma diretriz: uma gestão democrática, que abraça artistas e público, amplia linguagens e reafirma o centro como patrimônio coletivo. “Ver o espaço feliz é o que nos move. O centro de cultura não é meu, é das pessoas”, conclui Flávio Henrique.

Com público recorde, programação diversa e reconhecimento estadual, o Centro de Cultura João Gilberto se reafirma como a casa de quem faz cultura. Além disso, é um símbolo de pertencimento, inclusão e vitalidade artística no Sertão do São Francisco.



 

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