39 minutos de uma ode a Canudos com a força de duas atrizes

by - maio 16, 2025

 Relato de espectador ao assistir "Notícias do Dilúvio - Um canto a Canudos" da Cia. Biruta

| Foto: André Amorim / divulgação |

Pouco mais de 39 minutos se passaram após abrirem as portas do Cine-teatro Massangano, no último 10 de abril, e um turbilhão de reflexões povoarem meus pensamentos. Era a minha segunda vez assistindo "Notícias do Dilúvio - Um canto a Canudos" da Cia. Biruta. Não sei se foi o ritmo mais afiado que conseguiram após a maturação do espetáculo ou se houveram reformas -ou até se era eu que estava mais aberto-, mas fato é que o espetáculo me chegou bem mais nessa sessão que na minha oportunidade antecessora, anos atrás. 

"Pelas veredas percorridas, pelo direito ao pão". Saiu do teatro com o rastro de algumas reflexões que a obra lança sobre como nos organizamos socialmente e quais os reais interesses dos políticos para com a grande população. São reflexões sobre um massacre datado de 1896, mas que ainda conversam com nosso cenário político. Aqui está um mérito a ser dado à companhia, contar uma história já bastante explorada por linhas ainda não desgastadas. Canudos é um mundo de vidas e extraí-las deve ser uma busca imensa, algumas bem apagadas. Talvez por isso a dramaturgia não seja tão fácil de costurar. É interessante o teor noticioso dela e a força das palavras bem escolhidas, mas algo ainda escapa.

Meus mais fortes aplausos ficam para as atrizes. Como é bom ver quando o texto é dito com total entendimento do que se quer entoar, quando o intérprete está embebido daqueles sentidos. É perceptível o amadurecimento das personagens. Destaco como Camila Rodrigues tem ganhado mais corpo cênico, além do olhar firme que já tinha, e também a emoção latente que é o depoimento dito por Cris Crispim perto do final. Como uma obra onde o feminino norteia a história, as atrizes fazem jus às suas guerreiras.

| Foto: André Amorim / divulgação |

O trabalho de Antônio Veronaldo como diretor traz o desenho de sua assinatura na encenação, mas também um caminho mais autoral, que arrisco dizer é fruto da experimentação que as criações do Núcleo Biruta lhe permitiram de risco. 

A visualidade da obra é também um espetáculo, do cenário à luz, do figurino aos seus acessórios. O cuidado com os detalhes dá todo o contorno necessário.

Deixo o final desse pequeno relato para agradecer a resistência da Biruta em "guerrear" pelo CEU das Águas, em mantê-lo artístico para que nós (outros artistas e públicos) encontremos abrigo em seu palco. Rodando outros equipamentos do mesmo modelo nesses interiores nossos de cada dia dá para ver como facilmente podem ser deteriorados. Falando nisso, voltamos às reflexões do espetáculo sobre políticas. Qual interesse dos gestores públicos em deixarem sucatear os equipamentos culturais? 

Adriano Alves, 15/05/25.

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